segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

E o carnaval da Beija- Flor...

Cinzas do carnaval

Vladimir Carvalho
Cineasta



Sem nenhuma convicção, mas movidos por certa curiosidade talvez malsã, fomos, meses atrás, atendendo a convite do secretário de Cultura, Silvestre Gorgulho, ao encontro dos carnavalescos da Beija-Flor que se reuniriam com a prata da casa, no Açougue Cultural T-Bone, de Luiz Amorim. Já era fato consumado que o GDF patrocinaria o desfile da escola carioca com o tema dos 50 anos de aniversário de Brasília, e o nosso papel, segundo os termos da convocação, era oferecermos subsídios com ideias e sugestões que, incorporadas ao projeto ou contribuindo para o libreto, emprestassem o máximo de autenticidade e brilho ao espetáculo na Sapucaí.

Rolava certo desconforto entre nossas hostes brasilienses porque, como é notório, o governo local — leia-se o hoje apeado José Roberto Arruda — sempre se manteve, desde o início de sua gestão, olimpicamente indiferente às manifestações culturais da cidade, em qualquer de seus segmentos, negando-lhes, impassível, os recursos a que legitimamente faziam jus. Mas, nem por isso, deixamos de nos congraçarmos com os de fora, sobretudo tocados pelo entusiasmo do nosso irrequieto poeta e compositor Luis Turiba, de Moacir Oliveira, da Unidos do Cruzeiro, do anfitrião Luiz Amorim e, naturalmente, pela lábia e saltitante fervor do secretário Gorgulho.

Discrepâncias à parte, colaboramos nas honras da casa em volta dos tira-gostos do T-Bone. Descrente, mas respeitoso, entreguei a Alexandre Louzada, líder dos visitantes, um exemplar do livro Conterrâneos velhos de guerra, com o roteiro completo do filme que realizei sobre Brasília e que é, na minha óptica, razoável súmula da história da cidade, desde a construção até pelo menos os anos de l990 do século que passou. Porém, a impressão que me ficou do encontro foi pífia: superficialidade e pouco caso da parte dos sapientes “pesquisadores” em fraquíssima interação conosco, como se aquilo fosse o cumprimento de uma formalidade, pois já tinham tudo adredemente resolvido na cabeça. Voltamos nós, então, às nossas lides e peregrinações pelos corredores da Secretaria de Cultura em busca dos meios para consecução de nossos projetos nada carnavalescos e que até o momento tardam nas burocráticas gavetas.

No meio do caminho, entretanto, havia uma pedra, a pedra do escândalo, o atropelo do panetone da corrupção que nos assolou todos esses meses até se transformar no agora fora, Arruda. Em plena crise, inúmeros recados de Turiba e, finalmente, o convite de Moacir Oliveira, que só me alcançou horas antes de uma inadiável viagem de trabalho, o que me deixou fora. Era para irmos ao Rio de Janeiro atendendo ao chamado da Beija- Flor, que, agora, pedia socorro sem saber o que fazer diante do cambalacho que poderia botar gosto particularmente ruim no seu carnaval.

Não fui, mas, no avião para Salvador, não conseguia parar de cogitar no que diria ao povo da Beija-Flor se tivesse ido a esse novo encontro. E tudo jorrou cristalino como água da fonte na tela do pensamento. Ingênuo e pretensioso, eu teria proposto: “Vocês querem entrar para a história do carnaval e serem para sempre lembrados? Pois devolvam o dinheiro comprometedor do Arruda. Limpem a barra e convoquem os carnavalescos de Brasília para um fraternal e providencial mutirão. Eu tenho tudo pronto num libreto improvisado em cima da perna.

Abrimos na avenida com um imenso telão com o genial filme de Durval Barbosa como leitmotiv e dali puxaríamos a profusa cornucópia da Caixa de Pandora: um gigantesco panetone de dentro do qual pulavam coreograficamente ratos de todos os naipes e de colarinho branco; uma cueca monumental estendida de canto a canto da passarela de onde transborda uma cascata de notas de R$ 100 que vão ficando pelo chão como folhas, ao longo do desfile.

Meias na mesma escala, em varais, infladas de dinheiro; a famigerada bolsa de dona Eurides Brito inspirando um dos carros alegóricos com um boneco da própria na plataforma de destaque; uma comissão de frente em clave grotesca, constituída de bonecos enormes a exemplo do carnaval de Olinda, simulando Arruda e seus comparsas, a camarilha distrital, o burlesco secretariado, em smokings listrados como roupa de preso. O samba-enredo deve misturar o estilo escrachado do Pacotão com as bossas dos bambas da própria Beija-Flor. Enfim, uma ópera bufa magistral feita de reciclados, lembrando os bons tempos de Joãosinho Trinta no Sambódromo. Preveem-se aplausos exaustivos, ovação. Sucesso absoluto junto à massa.

No outro dia, já de volta a Brasília e ainda excitado com o “meu” desfile, telefonei para Gougon, que também fora convidado ao Rio, mas declinara do convite e contei tudo sobre minha ideia. Hiperativo, ele vibrou e passou rápido a tomar providências, comunicando-se inclusive com um vereador carioca, seu amigo, com grande penetração no populacho das escolas de samba. A resposta da consulta não se fez esperar e foi como uma ducha de água gelada. Falou e disse a voz da experiência: “Não se metam. Vocês estão loucos e não sabem da missa um terço. Esse pessoal é 10 vezes mais esperto do que o Arruda; tirem o cavalo da chuva. Caiam fora enquanto é tempo!”

Na madrugada do dia 15 de fevereiro, assistindo ao desfile da célebre escola, entendi finalmente toda a extensão de minha utopia babaca viajando no reino da maionese. Tive vários sobressaltos diante do luxo asiático e da extravagante fantasia, e o que vi, ao fim e ao cabo, foi insípida e monótona repetição dos chavões do hoje decadente carnaval instituído. Impossível identificar qualquer sombra de nossa Brasília naquela desenfreada estereotipia, onde mais uma vez comparece o velho clichê do Egito e suas múmias douradas, numa fuga autista de nosso presente tão sugestivo de sátira, humor e transgresssão, matéria-prima de um carnaval que se preza.

Ali, onde esperávamos a história de Brasília e seus protagonistas (e são 54 anos desde a construção), o que vimos foi o engodo. Em que bramas, em que brumas esconderam JK, Oscar Niemeyer, Lucio Costa e Bernardo Sayão? Em seus lugares assomam requintadas contrafações de Nefertite e Akneton. Qualquer Nabucodonosor serviria contanto que se fizesse jus ao desperdício dos recursos do contribuinte brasiliense. Até mesmo um simpático calango do cerrado conspurcava o lugar que legitimamente cabia ao nosso Dragão das Diretas-já, que marcou época em nossa memória coletiva. Sem falar num inusitado Anhanguera e um séquito de índios de isopor que soam tremendamente falsos e fora do lugar.

A um limbo inexplicável foram condenados os nossos artistas luminares, póstumos uns, outros em franca atividade! Por onde ficaram Athos Bulcão, Cláudio Santoro, Darcy Ribeiro, Rubem Valentim, Renato Russo, Cassia Eller, Hamilton de Holanda, o Clube do Choro, o Cabeças, o rock; e o Boi do Teodoro? Prefiro mil vezes o carnaval subdesenvolvido, mas alegre, irreverente, livre e, sobretudo, legítimo do Pacotão.

Seria cômico se não fosse trágico III

Seria cômico se não fosse trágico II

Seria cômico se não fosse trágico I

sábado, 20 de fevereiro de 2010

E o BBB...

Literatura de cordel! Há quanto tempo eu não lia!
Muito legal. O povo brasileiro é poeta mesmo !



BIG BROTHER BRASIL



Autor: Antonio Barreto,
Cordelista natural de Santa Bárbara-BA,residente em Salvador.

Curtir o Pedro Bial
E sentir tanta alegria
É sinal de que você
O mau-gosto aprecia
Dá valor ao que é banal
É preguiçoso mental
E adora baixaria.

Há muito tempo não vejo
Um programa tão ‘fuleiro’
Produzido pela Globo
Visando Ibope e dinheiro
Que além de alienar
Vai por certo atrofiar
A mente do brasileiro.

Me refiro ao brasileiro
Que está em formação
E precisa evoluir
Através da Educação
Mas se torna um refém
Iletrado, ‘zé-ninguém’
Um escravo da ilusão.

Em frente à televisão
Lá está toda a família
Longe da realidade
Onde a bobagem fervilha
Não sabendo essa gente
Desprovida e inocente
Desta enorme ‘armadilha’.


Cuidado, Pedro Bial
Chega de esculhambação
Respeite o trabalhador
Dessa sofrida Nação
Deixe de chamar de heróis
Essas girls e esses boys
Que têm cara de bundão.

O seu pai e a sua mãe,
Querido Pedro Bial,
São verdadeiros heróis
E merecem nosso aval
Pois tiveram que lutar
Pra manter e te educar
Com esforço especial.

Muitos já se sentem mal
Com seu discurso vazio.
Pessoas inteligentes
Se enchem de calafrio
Porque quando você fala
A sua palavra é bala
A ferir o nosso brio.

Um país como Brasil
Carente de educação
Precisa de gente grande
Para dar boa lição
Mas você na rede Globo
Faz esse papel de bobo
Enganando a Nação.

Respeite, Pedro Bienal
Nosso povo brasileiro
Que acorda de madrugada
E trabalha o dia inteiro
Dar muito duro, anda rouco
Paga impostos, ganha pouco:
Povo HERÓI, povo guerreiro.

Enquanto a sociedade
Neste momento atual
Se preocupa com a crise
Econômica e social
Você precisa entender
Que queremos aprender
Algo sério – não banal.

Esse programa da Globo
Vem nos mostrar sem engano
Que tudo que ali ocorre
Parece um zoológico humano
Onde impera a esperteza
A malandragem, a baixeza:
Um cenário sub-humano.

A moral e a inteligência
Não são mais valorizadas.
Os “heróis” protagonizam
Um mundo de palhaçadas
Sem critério e sem ética
Em que vaidade e estética
São muito mais que louvadas.

Não se vê força poética
Nem projeto educativo.
Um mar de vulgaridade
Já tornou-se imperativo.
O que se vê realmente
É um programa deprimente
Sem nenhum objetivo.

Talvez haja objetivo
“professor”, Pedro Bial
O que vocês tão querendo
É injetar o banal
Deseducando o Brasil
Nesse Big Brother vil
De lavagem cerebral.

Isso é um desserviço
Mau exemplo à juventude
Que precisa de esperança
Educação e atitude
Porém a mediocridade
Unida à banalidade
Faz com que ninguém estude.

É grande o constrangimento
De pessoas confinadas
Num espaço luxuoso
Curtindo todas baladas:
Corpos “belos” na piscina
A gastar adrenalina:
Nesse mar de palhaçadas.

Se a intenção da Globo
É de nos “emburrecer”
Deixando o povo demente
Refém do seu poder:
Pois saiba que a exceção
(Amantes da educação)
Vai contestar a valer.

A você, Pedro Bial
Um mercador da ilusão
Junto a poderosa Globo
Que conduz nossa Nação
Eu lhe peço esse favor:
Reflita no seu labor
E escute seu coração.

E vocês caros irmãos
Que estão nessa cegueira
Não façam mais ligações
Apoiando essa besteira.
Não deem sua grana à Globo
Isso é papel de bobo:
Fujam dessa baboseira.

E quando chegar ao fim
Desse Big Brother vil
Que em nada contribui
Para o povo varonil
Ninguém vai sentir saudade:
Quem lucra é a sociedade
Do nosso querido Brasil.

E saiba, caro leitor
Que nós somos os culpados
Porque sai do nosso bolso
Esses milhões desejados
Que são ligações diárias
Bastante desnecessárias
Pra esses desocupados.

A loja do BBB
Vendendo só porcaria
Enganando muita gente
Que logo se contagia
Com tanta futilidade
Um mar de vulgaridade
Que nunca terá valia.

Chega de vulgaridade
E apelo sexual.
Não somos só futebol,
baixaria e carnaval.
Queremos Educação
E também evolução
No mundo espiritual.

Cadê a cidadania
Dos nossos educadores
Dos alunos, dos políticos
Poetas, trabalhadores?
Seremos sempre enganados
e vamos ficar calados
diante de enganadores?

Barreto termina assim
Alertando ao Bial:
Reveja logo esse equívoco
Reaja à força do mal…
Eleve o seu coração
Tomando uma decisão
Ou então: siga, animal…

FIM

Salvador, 16 de janeiro de 2010.

Hoje gostaria de fazer uma singela homenagem a todos os meus amigos (e aqueles que nem conheço)que tanto lutaram para que a justiça fosse feita aqui no DF. E ela começou a partir do momento que ARRUDA foi preso... E isso aí galera... me orgulho muito de vcs e morro de inveja de não ter podido estar junto nessa luta... mas uma hora as coisas irão se acalmar e sei que voltarei a fazer outras coisas que julgo importante e que hoje não cabem na minha vida...Meu muito obrigado a todos vocês...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Rosas e mel



Outra música que acho legal...

Rosas e mel
Luciana Mello
Composição: Jair Oliveira

Mora na canção
Num coração apaixonado, bem-estar
Aparece perfumado de rosas e mel
Feito o azul do céu
É escancarado, encantado
Tem também na voz de quem canta pro dia
É o oi da manhã
O alô da alegria
É o tudo bem quando vai muito bem
Sinfonia da harmonia
Eu quero ser, eu quero ter
Eu quero fazer bem pra alguém
Quero encontrar eu quero espalhar
Eu quero cantar pra ver o que é que dá porque
Ainda bem que cantar faz bem !

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Conto de fadas para mulheres do séc. 21 número II



Era uma vez, numa terra muito distante, uma linda princesa independente e cheia de auto-estima que, enquanto contemplava a natureza e pensava em como o maravilhoso lago do seu castelo estava de acordo com as conformidades ecológicas, se deparou com uma rã.
Então, a rã pulou para o seu colo e disse: - Linda princesa, eu já fui um príncipe muito bonito. Mas uma bruxa má lançou-me um encanto e eu transformei-me nesta rã asquerosa. Um beijo teu, no entanto, há de me transformar de novo num belo príncipe e poderemos casar e constituir um lar feliz no teu lindo castelo. A minha mãe poderia vir morar conosco e tu poderias preparar o meu jantar, lavarias as minhas roupas, criarias os nossos filhos e viveríamos felizes para sempre...

E então, naquela noite, enquanto saboreava pernas de rã à sautée, acompanhadas de um cremoso molho acebolado e de um finíssimo vinho branco, a princesa sorria e pensava: - Nem fo...den...do!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010


Infância

Isso é uma panela? Pra quem vem é só seguir, devagarinho, maluquinho! O menino é que sabe -cochichando, bem baixinho - que no pote de ouro, feito por um alquimista,cabe tudo, tudo cabe, mas só sabe quem tem a pista. Quem será que sabe?Quem será o artista?

Me disseram que quem sabe é um maluco pequenino, é um moleque de verdade, um menino maluquinho...